sexta-feira, 20 de abril de 2018

«OPERAÇÃO MARQUÊS/PORTUGAL» JOSÉ SÓCRATES: "PRINCIPAIS SUSPEITOS SÃO O PROCURADOR E O JUIZ"


O ex-primeiro-ministro reagiu à divulgação dos vídeos de interrogatórios, na Operação Marquês, dizendo que são "crimes" com "complacência, se não cumplicidade das autoridades"

Numa conferência de imprensa na tarde desta sexta-feira, em que não surgiu acompanhado por qualquer advogado, José Sócrates leu uma comunicação em que refere que a dignidade das pessoas é "objeto de negócio e artigo de contrabando".

Sublinhou que os "principais suspeitos" de crimes de violação de segredo de justiça e outros ilícitos "são o procurador e o juiz", por não cumprirem os seus "deveres funcionais". E acusou o Ministério Público de "pura hipocrisia", ao anunciar a abertura de um inquérito-crime "48 horas depois" e "não 24 horas depois", e também por "não atuar para evitar outros crimes", concluindo existir "complacência, se não mesmo cumplicidade das próprias autoridades".

Ainda assim, afirmou que o conteúdo dos vídeos dos seus interrogatórios, perante o procurador do Ministério Público, Rosário Teixeira, e o inspetor tributário Paulo Silva, mostra "injustiça da prisão", "vacuidade do processo" e "ausência de factos e provas".

Além de repetir a "falsidade" da propriedade da fortuna acumulada na Suíça em nome do amigo Carlos Santos Silva, do apartamento de luxo em Paris, da corrupção em torno das decisões que envolveram a Portugal Telecom a favor dos interesses do BES, bem como a alegada proximidade com o banqueiro Ricardo Salgado, Sócrates quis enfatizar aquilo que também qualifica como "falsidade", envolvendo o caso Parque Escolar e as adjudicações ao grupo Grupo Lena - supostamente em percentagem superior à quota de mercado da construtora de Leiria.

Diz o ex-primeiro-ministro que tomou "como boa" a afirmação, do procurador Rosário Teixeira, num interrogatório, de que o Grupo Lena obtivera 10,6% das obras do Parque Escolar, mas - afirma - a realidade não será essa. Com base numa auditoria da Inspeção Geral de Finanças, contrapõe que a construtora obteve afinal "3,7%" das empreitadas, "totalmente em linha com a sua quota de mercado".

"Nem existe crime, nem os valores estão certos", refere, insistindo em "desonestidade" e "leviandade" das acusações.

José Sócrates anunciou que vai constituir-se assistente no processo-crime aberto para investigar a divulgação dos vídeos dos interrogatórios, afirmando que "não há interesse público" na emissão, apenas "interesse venal" pelas audiências e prosseguir aquilo que designa como "difamação" contra si.

A Procuradoria-Geral da República anunciou estar em causa um crime de desobediência, pela divulgação não autorizada dos vídeos dos interrogatórios.

Recorde-se que vários jornalistas de diversos órgãos de comunicação social constituíram-se "assistentes" no processo da Operação Marquês, tendo tido, por essa via, acesso a todas as peças processuais e material probatório do caso, como escutas telefónicas e gravações de interrogatórios e inquirições.

Conosaba/JN

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