segunda-feira, 12 de setembro de 2016

«NOVO LIVRO DO DR. LUÍS VICENTE» A OBRA: GUINÉ-BISSAU, DAS CONTRADIÇÕES POLÍTICAS AOS DESAFIOS DO FUTURO

A obra “Guiné-Bissau, das contradições políticas aos desafios do futuro” da autoria de Luís Barbosa Vicente que brevemente será lançada pela CHIADO EDITORA. Testemunho de duas personalidades e académicos guineenses que já leram o livro.

PREFÁCIO «trechos»

(…) Esta obra do Dr. Luís Barbosa Vicente surge num momento muito oportuno, atendendo aos recentes acontecimentos políticos na Guiné-Bissau, apresentando reflexões pertinentes e recentes sobre aspectos relevantes da esfera política, social e económica. A sua nota de abertura, aliás, traça um quadro bastante lúcido e informativo sobre os desafios que se colocam e têm colocado à Guiné-Bissau nos últimos anos. O título da obra é sugestivo e cativante, chamando a nossa atenção para as tradições e contradições políticas que hoje se vivem na Guiné-Bissau, projectando-nos para o futuro e para os desafios que iremos enfrentar.

(…) Luís Vicente tenta casar a Economia e a Política, trazendo à ribalta o velho debate com o qual já se debatiam os antigos intelectuais gregos (…) de certa forma, considerava-se que a imaginação política precisava de ser protegida da experiência económica. A lógica deste raciocínio é simples: para Platão, a economia parecia operar com base na necessidade e na ganância, enquanto a política devia operar com base na justiça e no direito. Mais perto dos tempos modernos, a separação entre economia e política adoptou um contorno diferente». De uma forma implícita, Luís Vicente convida o leitor para esta discussão, apresentando diferentes perspectivas que combinam aspectos políticos e económicos. Caberá ao leitor posicionar-se neste debate, em função das suas preferências. (…)

(…) A primeira parte do livro inicia-se com um ensaio económico sobre os desperdícios da política e dos políticos, argumentando sobre o subaproveitamento do potencial económico guineense devido à constante instabilidade política, com destaque para o impacto das decisões políticas no Produto Interno Bruto «PIB». O capítulo seguinte debruça-se sobre a confiança institucional, apresentando-se como uma reflexão sobre a transparência e o rigor. Segue-se uma discussão sobre os factores que podem ter levado ao fracasso do Governo de Base Alargada, recorrendo a declarações de vários actores políticos.

(…) A caracterização do Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde «PAIGC» e a reflexão sobre o legado de Amílcar Lopes Cabral constituem também o tema de um dos capítulos. Vale a pena destacar aqui dois aspectos fundamentais do pensamento de Amílcar Cabral: por um lado, o reconhecimento de que a luta de libertação nacional não seria ganha pela sua geração, mas sim pela geração seguinte, já que a libertação mais importante era intelectual e não física, política ou militar. Isto pressupõe que a luta de cada geração consiste em preparar o terreno para a geração seguinte. (…)

 (…) A primeira parte da obra de Luís Vicente termina com dois capítulos mais relacionados com a participação dos cidadãos e com as condições para o exercício de uma cidadania activa na Guiné-Bissau. A segunda parte desta obra inicia-se com uma breve caracterização da Administração Pública guineense, essencialmente com base em diferentes testemunhos, sugerindo depois algumas ideias para a sua reforma/modernização.

(…) Todos os capítulos seguintes desta parte apresentam projectos e exemplos concretos relacionados com a Administração Pública – um projecto de Modernização Administrativa e Governação Electrónica, uma parceria entre a Câmara Municipal de Bissau e a Câmara Municipal de Rio Maior (Portugal) e um estudo de caso no âmbito da capacitação da Administração Pública, com enfoque na formação de recursos humanos. Estes textos revelam a longa experiência do nosso conterrâneo Luís Vicente e o seu empenhamento em diversos projectos que têm em vista a melhoria, ou seja, o aumento da eficácia e da eficiência dos serviços da Administração Pública na Guiné-Bissau.

(…) Na terceira parte do livro, regressamos a temas mais relacionados com a Economia, nomeadamente, a importância do sector privado e das suas relações com o Estado, a gestão dos recursos pelos agentes públicos (com retorno aos temas da responsabilização e transparência), o paralelo da Mesa Redonda de Bruxelas com o financiamento a Angola, o papel relevante da diplomacia económica na escolha de parceiros e potenciais investidores, e o caso concreto da cooperação com o Reino de Marrocos. O autor debruça-se, ainda, sobre os mercados africanos emergentes, abordando tanto a criação de integrações sub-regionais como o papel estratégico do continente africano como um todo. (…)

(…) A obra “Guiné-Bissau, das [con]tradições políticas aos desafios do futuro” não é uma obra fechada; pelo contrário, é uma obra aberta, que aguarda por um debate permanente para a construção de uma sociedade mais estável e próspera. O Dr. Luís Barbosa Vicente mostrou já o seu valor em muitas iniciativas importantes para a Guiné-Bissau. Este livro vem confirmar o seu papel como agente activo e preocupado com o desenvolvimento e estabilidade política da Nação guineense, oferecendo-nos a nós, leitores, oportunidades de reflexão e partilha de ideias para os desafios do futuro.

Prefacio assinado por, Doutor Livonildo Francisco Mendes Ildo (Doutor em Ciência Política, Cidadania e Relações Internacionais).

POSFACIO «trechos» (1)

(…) A construção de uma nação livre implica, necessariamente, a construção do seu progresso. Essa, sim, seria a tarefa fundamental do nosso processo revolucionário, dizia Amílcar Cabral. Para Cabral, a verdadeira revolução só teria lugar na objetivação e na vivência de condições concretas de prosperidade.

(…) À nossa geração cabe a missão histórica de concluir o processo revolucionário e de abrir caminhos para um progresso crescente e sustentável. É, justamente, neste cenário que enquadro a presente obra do meu amigo e colega, Luís Barbosa Vicente. Um trabalho que emerge das inquietações e que pretende abraçar os desafios do seu tempo. A obra “Guiné-Bissau, das contradições políticas aos desafios do futuro”, posiciona-se no campo do conhecimento e da reflexão crítica. Tal particularidade é a representação viva dos desafios que se impõem à produção intelectual Bissau-guineense.  Da obra destaco a exploração das dinâmicas de funcionamento do nosso sistema político e a necessidade de serem inaugurados novos quadros de participação cívica.

(…) Não resisto à tentação de fazer a minha própria apropriação da obra. Até porque, o ato de ler livro é também uma espécie de tentativa de expropriação. Depois de lidos, os livros deixam de ser propriedade de quem os escreveu e passam a alimentar os pensamentos e os desejos dos que deles se apropriam.

(…) Este trabalho é fundamentalmente um exercício que visa retirar as roupagens de um sistema complexo, que reproduz o subdesenvolvimento e o empobrecimento de um processo revolucionário que, em tempos, augurou a implantação de um modelo progressista de sociedade. A apropriação que fiz levou-me a refletir sobre as particularidades do nosso sistema político. As cíclicas crises que assombram o nosso país obrigam a pensar nos quadros que enformam o exercício político. Mais do que nunca, importa pensar no conceito dominante de política na Guiné-Bissau. Isto leva-nos aos conceitos, aos modelos cristalizados e legitimados e, finalmente, às orientações e aspirações dos agentes que exercem e lutam pelo poder político.

(…) Afinal, para que serve a política? Esta é uma questão fundamental cujo debate permite o posicionamento na raiz dos problemas. Amílcar Cabral, principal concetualizador do pensamento político aplicado à nossa realidade, mostrou que o exercício político é completamente irrelevante se não resultar na melhoria das condições de vida das populações. Na esteira do seu pensamento, podemos afirmar que a política é uma prática desprovida de sentido se não proporcionar educação, saúde, trabalho, segurança, justiça e o bem-estar social. Em suma, enquanto instrumento social, a política só ganha sentido se tiver uma orientação humanista, reconhecida pelas realizações que se traduzem na melhoria das condições sociais de existência das populações.

(…) O que vemos na Guiné-Bissau é uma orientação diferente. De uma maneira geral os esquemas dominantes de exercício político apelam as lógicas essencialmente utilitaristas, que concebem o exercício do poder enquanto oportunidades exclusivas de acumulação e apropriação de recursos simbólicos e materiais. Temos, assim, em alternativa à orientação humanista, um sistema vicioso que inscreve os seus agentes em dinâmicas que perspetivam apenas o acesso, o reforço de posições e a permanência nos circuitos do poder. Este quadro, que molda e enforma o funcionamento do nosso sistema político, retira o bem-estar social da equação das decisões político-estratégicas.

(…) Na Guiné-Bissau, as prioridades do exercício do poder encontram-se, de uma maneira geral, orientadas para o reforço das lideranças e para a capacidade mobilizadora dos partidos, de modo a cimentar e a legitimar protagonismos individuais. As lutas pelo poder são esvaziadas de quaisquer princípios ideológicos, dando lugar às intrigas palacianas, esquemas clientelares e a demagogia despudorada.
(…) As análises inscritas na presente obra evidenciam uma série de processos endémicos, veiculados por um sistema viciado em modelos que, para além de reproduzirem estruturalmente a pobreza e o subdesenvolvimento, criam também condições para os golpes - militares e parlamentares - que empobrecem a nossa democracia. Um nado quase-morto. A necessidade de mudança é uma evidência incontornável. Porém, outra evidência é que o sistema político continuará tendencialmente impermeável à mudança. Na atual conjuntura, qualquer liderança progressista que perspetive uma transformação humanista do sistema será absorvido pelas dinâmicas utilitaristas e relegado para um canto sem expressão do campo político.
(…) A mudança dificilmente decorrerá das dinâmicas internas do sistema político. É necessário que essa pressão decorra de uma participação cívica consciente e devidamente informada. Ontem, os guineenses mobilizaram-se para a conquista da sua liberdade, exigindo o fim do colonialismo. Hoje, a luta continua e a mobilização terá de se traduzir na exigência de políticas que se coloquem ao serviço das pessoas e da melhoria das suas condições objetivas de vida.

(…) A exigência e o escrutínio popular têm a potencialidade de desencadear processos que obrigarão, por um lado, à fundação de visões políticas progressistas e, por outro, à implementação e concretização dessas mesmas visões. As mudanças na Guiné-Bissau dependerão do movimento das massas. O desenvolvimento e a democracia são, acima de tudo, conquistas dos povos. A obra “Guiné-Bissau, das contradições políticas aos desafios do futuro é um convite ao pensamento crítico e à conceção de propostas alternativas. Não se fecha na crítica, emerge na ambição de propor novos caminhos para o desenvolvimento. Trata-se de um trabalho que ensaia o início de um percurso de incitação ao debate público e ao questionamento crítico.


Posfácio assinado por, Mestre Dautarin da Costa (Sociólogo)




Sem comentários:

Enviar um comentário